terça-feira, 10 de setembro de 2013

Filho morto***

 
 
 
O FILHO MORTO 
 
No povo d'além da serra
Vai a noite em mais de meio,
E a pobre mãe velava
Unindo o filhinho ao seio.
 
           «Acorda, meu filho, acorda,
«Que esse dormir, não é teu;
«E como o sono da morte
             «O sono que a ti desceu.
 
 
«Tarda-me já um sorriso
«Nos teus lábios de rubim;
«Acorda, meu filho, acorda,
«Sorri-te ledo pra mim.» 
 
Mas o infante moribundo
Em seu regaço expirou;
E a mãe o cobriu de beijos,
E largo tempo chorou.
 
 
Em seu pequeno jazigo
Dois dias chorou também;
Ao terceiro o sino triste
Dobrou à morte dalguém.
 
 
 
E à noite no cemitério
Outro jazigo se via:
Era a mãe que ao pé do filho
Na sepultura dormia.
Soares de Passos

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Aquário de peixes mortos***



Quando em meu peito calar-se todos os gritos de indignação eis que já estou morta, pois em vida não poderia calar-me perante tanta injustiça.

Quantas pessoas "humanas" vivem e habitam esse planeta? com tudo o que vemos é difícil de imaginar que com um  mundo tão repleto de gente, em pleno o séc. XXI não há "civilizar" não há sociedade, não há respeito, não há paz!

Jenny tinha 9 anos quando conheceu a dor, seu mundo fantástico imaginário se transformou num poço sem fundo de solidão e medo. A pequena menina vivia em uma cidadezinha aos arredores de Baltimore, seus pais muito "atenciosos" estavam sempre preocupados com o que acontecia nos programas de TV, nas novelas e nos reality´s show. Jenny sempre se virou sozinha, fazia sua propria comida, ai á escola, não precisava chamar a atenção de seus pais nunca, exceto quando ela quebrava alguma coisa, sendo assim rapidamente a repreendiam dando-lhes broncas. Mais Jenny estava sempre feliz pois vivia em um mundo só dela, um mundo doce, onde ela imagina que era um princesa e que todos do reino a amavam, ou quando ela se fazia parecer com uma governanta que cuidava e protegia as crianças mais novas, brincava no quintal de casa todos os dias sempre imaginando mundo fantásticos onde ela podia ser quem queria, sonhava em ser grande acreditava que podia mudar o mundo. Seu pai era sindico de um prédio na região como não havia feito faculdade lá permaneceu por toda a sua vida, A mãe de Jenny era a tipica dona de casa vivia apenas para lavar passar e cozinhar, passava as tardes assistindo novelas e as noites assistindo programas de TV nada educativo claro não era necessário.  Ora do almoço! corre Jenny para comer a deliciosa comida requentada de sua mãe que está apressada pra assistir TV.

Uma mudança!

Algo acontece no dia 15 de novembro do ano de 1992, a vizinhança toda se agita com a chegada do caminhão de mudança, uma nova família chega para morar ao lado da casa de Jenny são os Mullerr, o senhor Deusgarde era o pai, a mãe Submisana e a filha Rokana que tinha a mesma idade que Jenny porem estava a anos luz de ressentimentos por situações vividas.
Desde que a nova família se mudou tudo havia mudado, afinal a rua que antes era calma e pacata agora ouvia-se gritos quase que diários. A família vivia em discórdia o senhor Deusgarde sempre oprimia os sentimentos de sua mulher e sua filha. Os vizinhos ouviam sempre as brigas todos em suas casas e nada faziam, uns ouviam com cautela enquanto outros ignoravam como se nada estivesse acontecendo. Deusgarde era frio, batia muito em sua mulher que sempre abaixava a cabeça e nada fazia para reagir, Era uma ditador, mandava, ordenava, tudo tinha que esta perfeito a seus olhos se não era tomado imediatamente por uma fúria injustificável. Jenny Temia a tudo que ouvia o senhor Deusgarde dizer, ela pedia para que seus pais tomassem uma atitude, para que eles conversassem com ele ou com a menina e a mãe, mais os pais de Jenny nada faziam não ousavam se intrometer não faziam nada.

Rokana começou a estudar na mesma escola que Jenny, logo Jenny sentiu a ameaça do temperamento forte de Rokana que chegou dominando a escola, fazia tudo o que queria e obrigava a todos a seguirem seus passos, tinha grande poder persuasivo e assim não deixava que ninguém se expressasse contra ela. Um certo dia Rokana arrastou um grupo de garotas para o banheiro da escola na hora do lanche e fez com que Jenny também fosse com ela, lá ela estava fazendo um show de horrores, as meninas ali presentes não tinham mais que 9 anos de idade e Rokana fazia pircings nelas, com uma agulha de injeção daquelas que compramos em qualquer farmácia, as meninas estavam entrando na moda que Rokana lançava sobre elas, eram furos no umbigo, no nariz e nas orelhas, Jenny perguntou para Rokana assustada o porque elas estavam fazendo aquilo, se não tinham medo dos pais e se não sentiam dor. Rokana com raiva que não se importava com o que os outros pensavam, ela adorava a dor que era relaxante e que seus pais não eram o problema.

A partir deste  episódio Jenny procurou se afastar de Rokana com medo de que algo ruim acontecesse, ela observava de longe tudo o que a garota fazia o jeito como ela se envolvia com garotos, o modo como se vestia como falava, tudo tão agressivo.

Certo dia por volta de umas cinco da tarde quando o sol já repousava tranquilo no céu enquanto a lua chegava de mansinho ouviam-se gritos, Rokana gritava ferozmente por ajuda, assustada apavorada, Jenny que estava no quintal via tudo pela janela da casa, Deusgarde sufocava Jenny com as mãos envolta do pescoço da menina ele dizia palavras horríveis como: - vou te matar! - vou acabar com a sua vida.A mãe sentada olhava inerte a cena que se passava a sua frente, Jenny desesperada gritava para os pais para fazerem algo, mais eles indolentes nem sequer olharam para ela. Uma vontade junto com raiva e indignação tomou conta do coração de Jenny que sem exitar corre em direção a casa de Rokana e entra abruptamente pela janela  , gritando para que o homem parasse ela pulou em cima dele com toda a sua força implorava para que ele largasse a pobre menina que já não se mexia e nem esboçava nenhuma expressão. Neste momento ele larga a menina que cai no chão sem reação, puxa com violência Jenny que grita por socorro, neste momento a mulher de Deusgarde olha para a cena e abaixa a cabeça; o homem arranca com força pedaços do cabelo de Jenny, ela grita desesperada pelos pais: -mãe, pai socorro! me ajudem por favor, estou com medo.
Ele ergue a mão e esbofeta o rosto da menina com força; repete alto e convicto que ninguém pode impedi-lo que ele faz o que quer quando quer. Que ela é apenas uma menina intrometida que merece pagar pelo que fez. " Eu sou grande e você é pequena".
Jenny já sem esperanças olha para a esquerda e vê um aquário grande com vários peixes mortos, a água esverdeada, suja, nota-se a falta de sensibilidade perante a vida.
Neste momento Jenny chora, senti-se abandonada, sozinha, ela sabe que ninguém vai ajuda-la, que ninguém irá intervir, ela sabe que não há mais saída, vê seus sonhos rasgados, seu mundo caindo e percebe que não adianta se lamentar que tem que esperar aquilo tudo passar, então ela fecha os olhos e começa a fazer o que sabe fazer melhor imaginar, ela imagina um lindo bosque cheio de flores sente o perfume dos lírios do campo, ela vê crianças que sorrindo dançam e mostram a felicidade, dançam, brincam, e ela corre alegremente em direção a elas, para se libertar para ser feliz, Neste momento ela sorri, de repente começa a chover em seu mundo, água começa a tomar conta de tudo em sua volta das flores, das crianças, deixando o bosque cheio de lama inundando tudo, matando as flores; tudo se transforma em água! e agora ela esta se afogando, em seus pulmões já não há mais ar, só água suja, ela abre os olhos e tudo o que vê são peixes boiando mortos envolta de sua cabeça.

Em menos de uma hora este homem tirou a vida de duas meninas,em uma hora no meio da tarde pessoas assistiam televisão, em uma hora pessoas escultam musica, em uma hora pessoas tiram um cochilo, em uma hora pode-se fazer um milhão de coisas mais ninguém podia impedir um assassinato. Ninguém se importou com o que acontecia, não era problema deles, eles ouviam em suas casas quietos sem nada declarar. Com a morte de Jenny restou apenas o silêncio, todos em suas casas pareciam saber o que tinha acontecido todos sabiam, saíram para fora de suas casas e em seus quintais olhavam em direção a casa dos Mullerr. Deusgarde sai carregando o corpo da filha que deixa no jardim e entra novamente para pegar o corpo de Jenny que também deixa ao lado do corpo de Rokana, ele se levanta olha para todos que estão ali inertes olhando para ele e com indiferença ele volta para dentro de casa como se nada estivesse acontecendo, as pessoas continuaram paradas em silêncio, os pais de Jenny abraçados choravam em silêncio, o mundo parecia ter perdido o som, nada se ouvia apenas sentia-se que naquele momento eles tinham perdido duas crianças, que tinham uma vida inteira pela frente. o mundo parecia cinza, mais ninguém nada fazia, ninguém se mexia.

Silêncio!
tudo aconteceu mais só restou o SILÊNCIO...




Lola Gillian***