terça-feira, 27 de agosto de 2013

Outono***


O Outono
Soares de Passos

Eis já do lívido outono
Pesa o manto nas florestas;
Cessaram as brandas festas
De natureza louçã.
Tudo aguarda o frio inverno;
Já não há cantos suaves
Do montanhês e das aves,
Saudando a luz da manhã.

Tudo é triste! os verdes montes
Vão perdendo os seus matizes,
As veigas e os dons felizes,
Tesouro dos seus casais;
Dos crestados arvoredos
A folha seca e mirrada,
Cai ao sopro da rajada,
Que anuncia os vendavais.

Tudo é triste! e o seio triste
Comprime-se a este aspecto;
Não sei que pesar secreto
Nos enluta o coração.
É que nos lembra o passado
Cheio de viço e frescura,
E o presente sem verdura
Como a folhagem do chão.

Lembra-nos cada esperança
Pelo tempo emurchecida,
Mil áureos sonhos da vida
Desfeitos, murchos também;
Lembram-nos crenças fagueiras
Da inocência doutra idade,
Mortas à luz da verdade,
Criadas por nossa mãe.

Lembram-nos doces tesouros
Que tivemos, e não temos;
Os amigos que perdemos,
A alegria que passou;
Lembram-nos dias da infância,
Lembram-nos ternos amores,
Lembram-nos todas as flores
Que o tempo à vida arrancou.

E depois assoma o inverno.
Que lembra o gelo da morte,
Das amarguras da sorte
Última gota fatal...
É por isso que estes dias
Da natureza cadente,
Brilham n'alma tristemente
Como um círio funeral.

Mas ânimo! após a quadra
De nuvens e de tristeza,
Despe o luto a natureza,
Revive cheia de luz:
Após o inverno sombrio
Vem a flórea primavera,
Que novos encantos gera,
Nova alegria produz.

Os arvoredos despidos
Se revestem de folhagem;
Ao sopro da branda aragem
Rebenta no campo a flor:
Tudo ao vê-la se engrinalda,
Tudo se cobre de relva,
E as avezinhas na selva
Lhe cantam hinos d'amor.

Ânimo pois! como à terra,
Também à nua existência
Vem, após a decadência,
Às vezes tempo feliz;
E a vida gelada, estéril,
Que o sopro da morte abala,
Desperta cheia de gala,
Cheia de novo matiz.

Ânimo pois! e se acaso
Nosso destino inclemente,
Em vez de jardim florente,
Nos aponta o mausoléu;
Se a primavera do mundo
Já morreu, já não se alcança,
Tenhamos inda esperança
Na primavera do Céu!



1º estrofe: O verão vai embora dando espaço para o outono, a mudança climática e a estética da natureza  agora se faz presente, as folhas caem o céu fica laranja; disto se trata a primeira estrofe do poema de Soares de Passos “Outono”.

2º estrofe: Queixa-se da mudança já eminente, sente-se triste com a partida do verão.

nas seguintes estrofes entre a 3º e a 5º ele sente uma profunda tristeza; perturbado com as  lembranças que esta estação o atrai, ele sente-se traído já que suas lembranças de infância revelam que sua mãe lhe havia mentido sobre as coisas da vida, as coisas que ele descobriu depois que lhe chegaram os anos.

Na 6º estrofe o personagem fala sobre a lembrança da morte que outono lhe causa, sentir que esta tarde, que já passou seus bons anos.

Nos versos seguintes ele volta com espírito animador para lembrarmos que após o outono e o inverno volta novamente a primavera trazendo as flores do campo e os verdes das arvores para dar brilho novamente ao cenário cinza do inverno. Assim é também na vida, depois da tristeza sempre vem a felicidade, quando a noite esta mais escura é porque logo vira o sol.

“Mas ânimo! após a quadra
De nuvens e de tristeza,
Despe o luto a natureza,
Revive cheia de luz”

Ainda ressalta por fim, que por mais que a morte chegue tirando a sua primavera, você ainda poderá encontrar a felicidade no céu, no outro plano.

“Se a primavera do mundo
Já morreu, já não se alcança,
Tenhamos inda esperança
Na primavera do Céu!”

Lola Gillian ***

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