terça-feira, 28 de maio de 2013

Alvares de Azevedo


Lembrança de morrer

Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça a dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste pensamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poente caminheiro.
- como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como deserto de minh álma errante,
Onde o fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecida.

Só levo saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
de ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!

(...)

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